Fulano desde que se conhecia por espermatozóide número 3.784.120.573 até hoje que se conhece por ser humano número 37.317.165-1 foi um bom garoto. Educado, inteligente; meio bonitinho, mas não muito atraente; sempre competente, educado e coerente, humilde e contestador; nunca foi de se jogar fora, nem tão pouco pelos quais ele deve a vida.
Meio sem noção do mundo ao nascer, onde há luz, gente ruim e gente boa, sabor, cheiro e desejos, foi crescendo e aprendendo. Passou por crises intensas de relacionamento familiar pelos seus 8 anos de idade, mas aprendeu a lição como ninguém jamais aprenderia, assim como no amor, que aos seus quinze anos fez do seu coração um bife de marmita.
Fulano sempre se destacou em quase tudo que fez, não porque queria ser o melhor, ou porque alguém cobrava dele isto. Seus pais nunca foram de lhe cobrar muita coisa, só educação, foi independente desde sempre. Ele era assim porque era o seu jeito de ser, ser bom em muitas coisas, mas é claro que em milhares de muitas outras, um desastre em potencial, como jogando bola, coisa que todo brasileiro tem de saber, ele, coitado, não sabia muito bem, mas nunca desistiu! Por muito tempo fez aulinhas de futebol num clube de sua cidade. Resumindo, alguém normal, que nunca teve muita atenção de quem queria, mas que sempre, mesmo que sem querer, puxou a atenção de quem ,para ele, não era tão importante assim.
Na escola Fulano era um dos "Tops", como dizia sua coordenadora e seus professores, mas procurava sempre estar com os pés no chão e estar ciente de duas responsabilidades, mas enquanto uns o achavam até muito humilde, quem ele realmente queria que visse seu grande potencial em ser alguém que muitos outros com certeza jamais serão não via.
Elogios do seu pai sempre foram muito raros, reclamados até por sua mãe, carente as vezes de afeto masculino numa relação de quase 30 anos de casada. Mas esta sim era carinhosa, e não vendo muito, porém se guiando no escuro, elogiava Fulano pelos seus feitos, mas nada que atingisse a grandiosidade de carência existente naquele pequeno ser desde sua fatídica fecundação entre quase quatro trilhões de infelizes eufóricos para um lugar ao óvulo.
Com sua mãe batalhadora, meio perua metida, mas uma boa mãe, compreensiva e didática, aprendeu todas as lições que sem ela, a vida ensinaria de uma maneira talvez não muito confortável. Com seu pai, não aprendeu muita coisa, a não ser a lei do "cale a boca, eu estou sempre certo não importa o que aconteça".
Hoje, Fulano é um jovem que no auge da sua maturação, é valorizado por quem ele não dá a mínima, mas que pelos próprios pais, é apenas mais um, que não merece agrados, elogios, ou mimos de vez em quando. E a única coluna da sua sala vazia, é sua namorada, alguém que jamais vai existir denovo, alguém que sempre que ele chora por não ter tido um pai legal, o lembra que um dia lhe dará a graça de ser um, e ser para o seu filho o que o seu próprio pai não foi, e nem é, para ele: alguém que o vê como mais que um filho, um vencedor em muitas lutas que outros jovens já teriam jogado a toalha.