Algumas pessoas acertaram a vida inteira, sempre andam na linha e são boas, só que num belo dia de verão cometem um erro, e são julgadas como aquelas que cometiam erros há anos. Qual o sentido de se comportar segundo os valores morais se na eventual desmoralização de uma atitude, se é julgado como um imoral por completo?
Essa matemática do respeito está toda embaralhada. Os erros valem mais que os acertos. Repara-se mais naquele que erra do que naquele que acerta, e nessa troca de valores o que dá a entender é que se alguém quer aparecer, é mais fácil aparecer cometendo um crime do que doando roupas para a campanha do agasalho.
Não que errar seja gostoso ou bonito, mas de certo, na ocasião da sua ocorrência, deveriam ser levados em conta todos os acertos de quem errou. Afinal mostra-se raro o fato de cometer um deslize e há de serem levadas em conta todas as bondades deste ser perante o seu erro a fim de julgá-lo de forma verossímil, uma vez que constatada a fatalidade do ato.
Porém o que ocorre na realidade é a falsa valorização das coisas boas, uma vez que a recompensa por acertar não está de acordo com a punição ao errar, pois pequenos erros se tornam catástrofes e grandes acertos são vistos como nada além da obrigação de ser alguém segundo os preceitos éticos e morais estabelecidos pela sociedade. E como consequência dessa inversão de papéis, onde julga-se melhor punir severamente e elogiar de forma supérflua, inicia-se um processo de desânimo ao constatar que nada do que se faz de bom é reconhecido devidamente perto daquilo que se faz ruim, mesmo que de forma negativa, seus erros vão sempre se destacar diante dos seus acertos, provando a inutilidade de se realizar atitudes nobres e forçando o indivíduo a se focar em ser neutro, pois errar não exige tanto esforço como acertar.
Isto de certa forma constrói pessoas frias e sem amor no coração, pois não são necessárias muitas inversões de valor em sua vida para que ela se torne alguém que apenas ligue para sí mesma, já que os outros nunca ligaram para ela quando pensava em ser alguém melhor para agradar a quem ela pensou que um dia creditaria sua gratidão nela.
Esta aí, gratidão. As pessoas são ingratas pelo que se faz para agradá-las, exaltá-las e ajudá-las, pois se fossem realmente gratas, um erro ou dois não seriam o suficiente para acabar com a confiança de milhares de outras situações onde foi posta a hombridade a prova. É como diz aquela velha frase que por trás carrega o legado dessa inversão de valores: "A confiança demora anos para se construida, e apenas um dia para ser destruída." Quando na verdade, deveria ser mais ou menos assim: "A confiança demora anos para ser construída, e por ser sólida diante de tanto tempo, não pode ser abalada por pequenos deslizes sujeitos a qualquer um".